terça-feira, 24 de abril de 2012


Que barulho é esse na escada?
É o amor que está acabando,
é o homem que fechou a porta
e se enforcou na cortina.

Que barulho é esse na escada?
É Guiomar que tapou os olhos
e se assoou com estrondo.
É a lua imóvel sobre os pratos
e os metais que brilham na copa.

Que barulho é esse na escada?
É a torneira pingando água,
é o lamento imperceptível
de alguém que perdeu no jogo
enquanto a banda de música
vai baixando, baixando de tom.

Que barulho é esse na escada?
É a virgem com um trombone,
a criança com um tambor,
o bispo com uma campainha
e alguém abafando o rumor
que salta do meu coração.
(Carlos Drummond de Andrade)

“Perguntei à terra,
ao mar, à profundeza
e, entre os animais,
às criaturas que rastejam. 
Perguntei aos ventos que sopram
e aos seres que o mar encerra. 
Perguntei aos céus, ao sol, à lua e às estrelas 
e a todas as criaturas à volta da minha carne:  
Minha pergunta era o olhar que eu lhes lançava.  
Sua resposta era a sua beleza.” 
(Santo Agostinho)