sexta-feira, 5 de abril de 2013


''Primeiro poema de abril''

Vem vindo o abril tão belo em sua barca de ouro!
Um copo de cristal inventa as cores todas do arco-íris.
Eu procuro
As moedinhas de luz perdidas na grama dos teus olhos verdes.
E até onde, me diz,
até onde irá dar essa veiazinha aqui?
(Abril é bom para estudar Corpografia!)

Mario Quintana
de 'Baú de Espantos'

''Ramo de adeuses''

Pequeno ramo
de um campo antigo
que a abelha esquece;
com o denso orvalho
que a lua forma
e, se desliza,
ninguém recorda;
laços do vento
desamarrado
de claros rios,


leva, Memória!
por esses mundos,
para as imagens
inesquecíveis
que atravessaram
sonhos reclusos,
dando e tomando
pela penumbra
silencio e enigmas.

Cecília Meireles
In: Retrato Natural



Um amigo não caminha apenas no shopping: Anda em silencio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado. Um amigo não segura a barra, apenas: Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.
(Trecho retirado do texto.: " Para que serve um amigo?")

quinta-feira, 4 de abril de 2013



(...) Circunda-te de rosas, ama, bebe: E cala. O mais é nada.(Ricardo Reis)
(Coletânea: Sonhar Lindos Sonhos)




Serafim e Seus Filhos
Ruy Maurity

São três machos e uma fêmea, por sinal Maria,
Que com todas se parecia.
Todos de olhar esperto, para ver bem perto,
Quem de muito longe é que vinha.
Filhos de dois juramentos, todos dois sangrentos,
Em noite clarinha, eia-ô,
O João Quebra-Toco, Mané-Quindim, Lourenço e Maria . . .
Noite alta de silêncio e Lua, Serafim,
O bom pastor de casa saía.
Dos quatro meninos, dois levavam rifle,
E os outros dois levavam fumo e farinha.
Bandoleros de los campos verdes, Don Quijotes,
De nuestro desierto, eia-ô,
Serafim bom de corte,
Mané, João, Lourenço e Maria . . .
Mas o tal Lourenço, dos quatro o mais novo,
Era quem dos quatro tudo sabia.
Resolveu deixar o bando e partir pra longe,
Onde ninguem lhe conhecia.
Serafim jurou vingança,
Filho meu não dança conforme a dança, eia-ô,
E mataram o Lourenço em noite alta de lua mansa . . .
Todo mundo dessas redondezas
Conta que o tal Lourenço não deu sossêgo.
Fêz cair na vida sua irmã Maria
E os outros dois matou, só de medo.
Serafim depois que viu o filho lobisomem,
Perdeu o juízo, eia-ô,
E morreu sete vezes,
Até abrir caminho pro paraíso . . .


Há na intimidade um limiar sagrado,
encantamento e paixão não o podem transpor
mesmo que no silêncio assustador se fundam
os lábios e o coração se rasgue de amor.

Onde a amizade nada pode nem os anos
de felicidade mais sublime e ardente,
onde a alma é livre, e se torna estranha
à vagarosa volúpia e seu langor lento.

Quem corre para o limiar é louco, e quem´
o alcançar é ferido de aflição...
Agora compreendes por que já não bate
sob a tua mão em concha o meu coração.

Anna Akhmátova
(Russia 1889-1966
)