domingo, 29 de abril de 2012


O bem do perdão 
Nove conselhos para deixar o ressentimento de lado e seguir em frente
Por Ilana Ramos  
  
  Pode ser uma mentira que contam a nosso respeito ou o atraso do pagamento de um dinheiro emprestado. Não é incomum que as pessoas com quem nos relacionamos no dia-a-dia nos decepcionem e não correspondam às nossas expectativas. No entanto, alimentar rancor e ressentimentos faz mal ao corpo e à alma e nos prende a acontecimentos passados, impedindo que consigamos enxergar o futuro com alegria e paz interior. Por pior que tenha sido o erro do outro, é somente perdoando que temos, enfim, a oportunidade de seguir em frente, defendem os especialistas.

O perdão não é simplesmente aceitar um pedido de desculpas, quando existe, e guardar a mágoa. Para a empresária, escritora, terapeuta e intuicionista Sonia Maria Milano, "é um processo de abandonar o vínculo com o passado, conseguindo seguir em frente. Quando liberamos nossas dores, nós não ficamos mais ligados ao passado, e sim, livres para experimentar a felicidade verdadeira e a paz interior. Dentro daquilo que acredito, perdoar é o que nos permite liberar a nós e o outro(s) da jornada cármica de almas que compartilham entre si. Quando perdoamos estamos concentrados em encerrar o ciclo cármico que nos une a esta(s) pessoa(s)".

Quando nos sentimos lesados por alguma coisa que outra pessoa fez, a nossa tendência é buscar razões que justifiquem a nossa raiva. No entanto, Sonia diz que "perdoar é esquecer e aí começa a grande dificuldade, pois somos seres históricos, com memória, e, portanto, é muito difícil ter o esquecimento como condição para o perdão. Tenho constatado que perdoar, muito mais do que esquecer, é um constante exercício de desprendimento. Desprender-se significa desvencilhar-se do que está ligado. Deixar para trás, sem alimentar as emoções que as referidas lembranças causam".

Pensamentos como "eu não merecia isso" e "depois de tudo que eu fiz" costumam povoar a mente de pessoas que guardam rancor dos erros de outra. Isso acontece porque "nos julgamos muito importantes, superiores e donos da verdade. Perdoar o outro é, antes de tudo, perdoar a si mesmo de suas imperfeições, fragilidades e até de ter, de certa forma, contribuído para o impasse ocorrido. Perdoar o outro é a oportunidade de agradecer a Deus por poder superar mais um obstáculo que nos impedia de crescer e amadurecer", diz a terapeuta.

Perdoar também não é fingir que o ato da outra pessoa não teve importância. "Sabemos que não foi correto, mas perdoamos porque também sabemos que, como pessoas, somos imperfeitas e temos momentos de falta de lucidez e consciência e magoamos os outros. O perdão deve ser generoso, pleno e completo, deve vir do coração e da alma. É uma escolha que fazemos para nós mesmos, para que possamos ficar livres dessas energias e seguir em frente na nossa vida. Quando perdoamos alguém, somos nós os primeiros beneficiados, pois deixamos de carregar um peso enorme dentro de nós mesmos e nos abrimos para novas etapas", afirma Sonia.
 
 
No entanto, sabemos que perdoar um grave erro do outro não é tão fácil assim. Por isso, olhar para si mesmo – provavelmente já magoamos alguém também – é a melhor maneira de enxergar a importância do perdão e gerenciar isso dentro de si mesmo. A terapeuta e intuicionista Sonia Maria Milano lista nove passos elaborados pelo pesquisador Fred Luskin que podem nos ajudar a chegar até a capacidade de perdoar o outro. Veja a seguir:

OS NOVE PASSOS DO PERDÃO

1. Saiba exatamente como você se sente sobre o que ocorreu e seja capaz de expressar o que há de errado na situação. Então, relate a sua experiência a mais duas pessoas de confiança.

2. Comprometa-se consigo mesmo a fazer o que for preciso para se sentir melhor. O ato de perdoar é para você e ninguém mais. Ninguém mais precisa saber da sua decisão.

3. Entenda seu objetivo. Perdoar não significa necessariamente reconciliar-se com a pessoa que o perturbou, nem se tornar cúmplice dela. O que você procura é paz.

4. Tenha uma perspectiva correta dos acontecimentos. Reconheça que o seu aborrecimento vem dos sentimentos negativos e desconforto físico de que você sofra agora, e não daquilo que o ofendeu ou agrediu dois minutos - ou dez anos - atrás.

5. No momento em que você se sentir aflito, pratique técnicas de controle de estresse para atenuar os mecanismos de seu corpo.

6. Desista de espera, de outras pessoas ou de sua vida, coisa que elas não escolheram dar a você. Reconheça as “regras não cobráveis” que você tem para sua saúde ou para o comportamento seu e dos outros. Lembre-se que você pode esperar saúde, amizade e prosperidade e se esforçar para consegui-los. Porém você sofrerá se exigir que essa coisa aconteça quando você não tem o poder de fazê-las acontecer.

7. Coloque sua energia em tentar alcançar seus objetivos positivos por um meio que não seja através de experiência que o feriu. Em vez de reprisar mentalmente sua mágoa, procure outros caminhos para seus fins.

8. Lembre-se de que uma vida bem vivida é a sua melhor vingança. Em vez de se concentrar nas suas mágoas – o que daria poder à pessoa que o magoou sobre você – aprenda a busca o amor, a beleza e a bondade ao seu redor.

9. Modifique a sua história de ressentimento de forma que ela o lembre da escolha heroica que é perdoar. Passe de vítima a herói na história que você contar.