domingo, 3 de junho de 2012



Procuro
Omar Salomão

Procuro o castelo dos castelos da mata soterrado
a meus pés. Pare e ouça. O encontro dos rios não
deixa vestígios. As virtudes evaporam no ar. Água
barrenta não reflete luz, Narciso. Há falhas na
comunicação. Não me faça perguntas. Não
dê uma resposta. Procuro minha morada entre as
abelhas da mata. Rabos-de-macaco tapam o sol. É
tanta gente que não sei quem é. Poeta é viaduto.
Atravessa as ruas. Eu ando e sacudo os sonhos.
Poeta é ponte, engenharia. É parede e grafitti.
Não seja nostálgico, poeta não vê estrelas. O céu
da cidade é negro-azulado. A poesia
me enlouquece e me cerca por todos os lados. E
eu caio. Partido. Me disseram um dia, as almas são
duas. Vejo embaçado. Nada claro. Nem
longe, ouço gritar. Que os deuses foram
encontrados vivos sob os escombros. Besteira,
deuses não sobrevivem. E eu caio, coitado. E
apesar do cerco, o castelo permanece de pé. Com
as porcarias de sempre. Eu só queria... Ah, eu
queria descansar. Queria um tempo, um
tempinho. Pra descansar. O que é certo? Não
consigo ver o que está perdido. Já não enxergo.
Os diferentes lugares parecem os mesmos. As
pessoas sempre iguais. E sinto a chama puir. E de
que importa... não sei ao certo. Poète. Minha alma
desmorona. E se cola como azulejos quebrados
em um mosaico. Entranha na roupa feito manchas
de café e vinho. Sumir para farejar. Se esconder
para soltar. Quebrar. As convicções se vão com o
vento. E a virtude... a virtude é só mais um erro...  

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